Marido, filho e parentes pesaram na volta a Brasília. Mas Márcia Soares não titubeia ao falar sobre a temporada de dois anos em Tocantins. O conto tem tom de saudade. E o enredo é profissional. “Lá, tive o melhor emprego da minha vida. Como está tudo começando, a gente tem voz ativa”, lembra a nutricionista de 26 anos. O desembarque na capital federal ocorreu em janeiro deste ano. Márcia veio acompanhar Rubens, o marido aprovado em uma seleção do governo local. Logo arrumou emprego. E sabe que contratação ligeira tem influência nortista. “A experiência que tive lá e a aprovação em um concurso fazem a diferença aqui”, avalia.
Deixar Brasília para trilhar itinerários alternativos é decisão de carreira cada vez mais comum. “Como muitas pessoas se preparam para concursos e a oferta de vagas nem sempre é grande, elas começam a tentar em outros lugares”, avalia Antônio Ibarra, responsável pela Pesquisa de Emprego e Desemprego do Distrito Federal. E se o rumo for o mesmo tomado por Márcia, eis uma boa hora de arrumar as malas. É que estão abertas 20.123 vagas em concursos para órgãos da Região Norte.
Nenhuma das contratações será para os quadros do governo federal, por isso os salários nem sempre se equiparam aos daqui. “Mas se levarmos em conta o custo de vida de Brasília, muitas vezes a mudança compensa. Além disso, no mundo globalizado, os profissionais não têm fronteiras”, pondera Ibarra. Os 10 concursos oferecem vagas no Acre, Rodônia, Pará, Tocantins e Amazonas. Nos contracheques, valores que variam de R$ 380 a R$ 5.874.
Fartura que vem do Pará Obrigado a substituir temporários até o final deste ano, o estado oferece 17.939 vagas. A maioria delas, como a dos outros concursos da Região Norte, é para cidades do interior
Um acordo firmado entre o governo do Pará e o Ministério Público do Trabalho (MPT) concede ao estado posto de destaque quando o assunto é concurso público. Das 20.123 vagas abertas na Região Norte do país, 17.939 estão lá. A oferta tem a regularização como justificativa. No Pará, há 84 mil servidores ativos. Desses, cerca de 20 mil não foram aprovados em concursos públicos. E eles precisam ser substituídos até o final deste ano. “Há muito tempo não é feito concursos no estado. Além disso, precisamos de gente para trabalhar nos órgãos que foram criados na atual gestão”, justifica Maria Aparecida Barros Cavalcante, secretária de Estado de Administração.
Segundo Maria Aparecida, o processo de substituição dos temporários resultará em 12 concursos públicos, que serão divulgados até o final do ano. “Como a maioria das vagas é em órgãos da educação, saúde e segurança, áreas que não podem ser interrompidas, estamos pedindo ao MPT que o prazo mude para fevereiro de 2009”, diz a secretária.
Professora do ensino especial, Alícia Terezinha Pantoja Almeida também teme que a troca de professores comprometa a formação dos alunos, já que o ano letivo em vigor será encerrado em 20 de janeiro. Mesmo cumprindo uma jornada de 200 horas semanais, ela já começou a se preparar para o concurso. “Exerço uma função de nível superior, mas o meu salário é de nível médio. Vou fazer a prova para regularizar a minha situação”, reclama. Aos 39 anos, Alícia trabalha desde os 23 em escolas públicas do estado, sempre submetida a contratos temporários.
Interior No momento da inscrição, os interessados terão de escolher em que região do estado pretendem trabalhar. Há vagas na capital, em Belém, mas a maioria é ofertada no interior. Optar pelo local de lotação também será obrigatório nos concursos da Secretaria de Gestão Administrativa do Acre, da Universidade Federal de Tocantins e da Polícia Civil de Tocantins. No caso da polícia tocantinense, nem há a opção de trabalho em Palmas. “A mudança para a capital faz parte do plano de promoção, os mais antigos têm prioridade”, explica Abizair Paniago, superintendente da Polícia Civil do estado.
Márcia Soares precisou aguardar a sua vez. Aprovada em 2004 no concurso da Secretaria de Saúde, ela foi trabalhar em Arapoema, a 370 quilômetros de Palmas. Só depois de um ano e meio, mudou-se para a capital. “Fui para uma cidade com 15 mil habitantes, em um hospital que nunca tinha tido uma nutricionista. Apesar das resistências, foi uma experiência muito válida”, conta. Em Palmas, o quesito novidade continuou a fazer parte da rotina de Márcia. “A equipe é nova e a gente participa de todos os processos. Sem contar que o salário é bom para os iniciantes, já que, na minha área, o mercado em Brasília está saturado”, avalia.
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